Por Clara Xisto
O Brasil foi o último país a abolir a escravidão no Mundo. A Lei Áurea, no ano de 1888 proibiu, teoricamente, que a prática fosse realizada no país. O Fantástico do dia 30 de junho de 2019 contou a história de Solange Ribeiro Correa, mulher que viveu durante 29 anos, na cidade de São Paulo, em situação análoga à escravidão.
A repórter Flávia Cintra inicia a matéria contando a história de Solange: filha de mãe alcoólatra, nascida em Curitiba, ela teria sido entregue aos 7 anos à família de Dinah Pádua Melo da Costa, com as promessas de boas condições de vida, incluindo casa, estudo de qualidade, tudo que não tinha acesso quando morava no Paraná.
O que Solange encontrou ao chegar em São Paulo foi uma outra realidade, perdeu completamente a sua liberdade de comunicação com o mundo externo, foi obrigada a dormir em banheiros, nem direito ao voto Solange tinha. A patroa, quando finalmente assinou sua Carteira de Trabalho, com o salário 130 reais, descontava deste dinheiro até o material utilizado para a manutenção da casa.
A matéria também mostra que a fez questão de não se preocupar com o real nome de Solange, chamando-a agora de Karina, com a justificativa de não se lembrarem mais de seu nome verdadeiro. A família nunca teria tratado Solange como filha, mas sim como empregada, desde o início, escolhendo até qual seria a xícara que seria usada por ela.
O Fantástico também busca as testemunhas do caso, que afirmam a versão de Solange de que nunca teria tido acesso à educação e que teria tido sua liberdade de comunicação completamente privada. O advogado de Solange afirma que ela perdeu inúmeros direitos que lhe seriam garantidos, como de lazer, de ir e vir e até mesmo à vida.
É frisado na matéria que Solange não mora mais na casa de Dinah desde 2016, e que agora, por decisão da justiça, receberá R$ 1 milhão de indenização, sendo de responsabilidade das netas de Dinah pagarem essa quantia parceladas em 21 anos e 2 meses. A decisão foi tomada em segunda instância, após os advogados de Solange recorrerem na primeira decisão tomada. A quantia não enquadra as dívidas trabalhistas da família com ela, mas mesmo que não recupere tudo o que perdeu quando era empregada, pode ser uma chance de recomeço.
A narrativa criada pelo Fantástico para contar a história de Solange é assertiva, mesmo que procurem testemunhas, elas podem ser tidas como personagens que afirmam aquilo que Solange diz ter vivido. Ela foi privada de seus direitos humanos e isso é abordado pela matéria de Flávia Cintra. É de extrema importância que programas de grande relevância como o Fantástico abordem esse tipo de caso, por serem de extrema recorrência no país, podendo alertar aqueles que inconscientemente passam por isso.
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