Por Yasmim Paião
Uma professora atacada pelos próprios alunos em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Esse foi o tema de uma das matérias do programa Fantástico na edição de domingo, 2 de junho. Com um tom de denúncia, a reportagem mostra a agressividade dos estudantes que jogam livros na docente, destroem carteiras e gravam o ato.
Para dar mais credibilidade à história, o jornalista Valmir Salaro utiliza trechos do vídeo que circula na internet e conversa com professores que relatam as humilhações diárias. Na passagem, o repórter enfatiza que a maioria dos dois mil alunos da escola estadual é tranquila. O problema, na verdade, seria uma minoria de mais ou menos vinte alunos que ameaçam os funcionários da escola.

Uma das professoras entrevistadas, a primeira ajudar a colega agredida, conta que os discentes disputam autoridade e afirmam que a escola não pode fazer nada contra eles. Por meio de uma pergunta para professora, o repórter da voz à educadora e leva o telespectador a reflexão: “Quanto ganha um professor para ter essa vida em uma escola estadual? Vale a pena se sacrificar por um trabalho desse?”
A narrativa também apresenta o relato por telefone da professora agredida e deixa claro que os pais tiveram a oportunidade de serem ouvidos, mas dois não quiserem dar entrevista e um não foi encontrado.
Apresentando diferentes perspectivas, a reportagem escuta o sindicato de professores de São Paulo e secretário de Educação. O primeiro acredita que uma das razões do problema é que faltam mais profissionais nas escolas. Enquanto o segundo deixa a entender que a responsabilidade vem da família.
Não é a primeira vez que vemos professores serem agredidos. Matérias como essa vão ao ar diariamente. O retrato continuo da violência contra docentes aponta para o descaso com esses profissionais. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) colocam o Brasil como campeão mundial na violência contra professores.
A violência nas escolas é consequência de diversos fatores históricos e sociais. O investimento na educação (uma das críticas levantadas, na reportagem, é a falta de profissionais na escola) é uma das soluções para resolver ou amenizar esse problema.
Infelizmente, as previsões de mudança para esse contexto não são as melhores. O Brasil escolheu um presidente que odeia o ensino público. Por meio de suas palavras e de seus atos, Jair Bolsonaro encara a educação como inimiga numa guerra cultural. Enquanto em outros países, a educação é vista como a grande via de acesso para a ascensão da renda e da qualidade de vida, o atual governo, mostra que ela ameaça seus ideais liberais e nada democráticos.

As políticas para Educação adotadas na atual administração como os contingenciamento de recursos, são fatais para a população brasileira, um verdadeiro retrocesso. O atual governo utilizou como desculpa o investimento na educação básica para cortar a verba destinada aos Institutos Federais. Estratégia adotada para enganar o povo.
Como se não bastasse os cortes de verbas, Bolsonaro já apoiou e estimulou a gravação de professores por alunos em sala de aula. Segundo ele, só “professores doutrinadores” teriam medo da medida. Atitude desrespeitosa que evidencia a falta de autoridade dos educadores e mostra como o governo encara essa classe.
O programa Fantástico cumpriu seu papel ao mostrar a realidade dos docentes do ensino público e básico. Se por um lado temos um governo disseminador de “fake news”, por outro temos o jornalismo que tem por dever informar e formar consciência.
O artigo 26º da Declaração Universal do Direitos Humanos aponta a educação básica como direito de todos. Em tempos sombrios, em que ela é vista como inimiga, o telejornalismo nos ajuda a lembrar que só através do investimento no ensino teremos um país melhor, um Brasil de todos, onde professores tenham o respeito que merecem.