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Tratamento dado pelo Profissão Repórter ao ciclone de Moçambique

por Clara Xisto


O programa Profissão Repórter surgiu no ano de 2006, como um dos quadros do

Fantástico, comandado por Caco Barcellos e dirigido por Marcel Souto Maior, contando

com a colaboração de sua equipe, formada por Ana Paula dos Santos, Caio Cavechini,

Felipe Gutierrez, Julia Bandeira, Mariana Salerno e Natalia Fernandes. Em 2008 o

quadro se tornou um programa semanal na TV Globo, com o objetivo de apresentar ao

telespectador os desafios da produção de uma reportagem de televisão.

O programa do dia 17 de abril de 2019 tratou da grande devastação e das graves

consequências sofridas pelos moradores de Moçambique, após a passagem do ciclone Idai, o mais devastador a atingir o país nos últimos 10 anos. Os repórteres Caco

Barcellos, Eduardo de Paula, Erik Von Poser e Mayara Teixeira vão em busca de

imagens e relatos daqueles afetados pelo ciclone.]


Ciclone devastou Moçambique

Mayara e Erik vão em busca dos desabrigados que ainda não tiveram contato com a família, e que sofrem com a inexistência de notícias. Chegam à cidade de Beira com a informação de que esta teria sido a cidade mais afetada, sendo 90% destruída. Caco segue o caminho da distribuição das ajudas humanitárias, afirmando que foram enviadas por inúmeros países, inclusive do Brasil. Imagens de desordem e confusão apresentam a grave situação pela qual os moçambicanos estão expostos. A distribuição de água, comida e roupas não é uma tarefa fácil. A todo momento, nos cemitérios da cidade, ocorrem velórios simultâneos, daqueles que tiveram a “sorte” de poderem ao menos velar os corpos de seus entes queridos.


O ciclone não trouxe apenas devastação à Moçambique, com ele a contaminação

das águas tomou conta do país, aumentando os índices de Cólera, doença

infectocontagiosa capaz de causar diarreia, levando à uma desidratação. Tem

tratamento, e exige que os infectados sejam medicados o mais rápido possível. No país

há uma distribuição da vacina em postos, mas, para que se tenha acesso, é necessário

enfrentar uma longa espera, assim como com qualquer ajuda que queiram receber. Para o tratamento de água um produto vem sendo distribuído na área, chamado “certeza”, esse possibilitaria o acesso à agua minimamente tratada.


A reportagem é inteiramente marcada por um cenário de intensa devastação e

precariedade. O acesso a ajuda não é fácil, causa briga e os moradores tem de se armar para não perder aquilo que teve acesso até então, mesmo que não represente grande quantidade. Uma determinada área teria ficado isolada por 15 dias, e como a ajuda do governo não teria chegado, os próprios desabrigados foram se reorganizando. A ausência de ajuda governamental é amplamente exposta durante toda a reportagem. Tanto os missionários que lá estão, como os próprios cidadãos, se utilizam da visibilidade que ganhariam por meio da reportagem para pedir ajuda e apresentar a situação pela qual são obrigados a enfrentar.


Outro ponto apresentado é a destruição sofrida pelo maior hospital da região,

que teria perdido inúmeros equipamentos, além de parte de sua estrutura. O estrago foi tanto, que para escoar a água que teria entrado ali, foi necessária a abertura de um

buraco em uma das salas, para que fosse esvaziada. Mesmo que a situação deixada pelo ciclone seja absurdamente precária, a ausência de ajuda governamental teria aflorado nos cidadãos sua solidariedade. Moisés, um dos desabrigados, criou canoas e arriscou sua própria vida no intuito de salvar crianças, e mulheres que sofriam com as consequências do ciclone. Além disso, em áreas isoladas, os próprios moradores se encarregam de transportar a ajuda que recebem.


Durante toda a reportagem são apresentados apelos de moçambicanos que

sofrem com a ausência de ajuda governamental, e tais imagens são abertamente

apresentadas. Isso pode se justificar pela escolha do programa em ter uma abordagem mais ampla em relação aos direitos humanos. É claro que aquelas pessoas, expostas àquela devastação tem seus direitos negligenciados, tendo em vista que corpos não teriam sido encontrados, nem sequer procurados. Nem todos tem acesso a ajuda humanitária, e sofrem com fome, falta de abrigo, de roupas, além de outros itens básicos necessários à sobrevivência. A abordagem do Profissão Repórter toma para si, portanto, além dos objetivos de apresentar os danos causados pelo ciclone, a responsabilidade de devolver, a medida do possível os direitos retirados daqueles sobreviventes.

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