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Democracia em vertigem

Por Ana Schuchter


O documentário brasileiro ‘’ Democracia em Vertigem’’, produzido e dirigido pela cineasta Petra Costa, desde a sua estreia na plataforma da Netflix, na última quarta feira (19/6), vem sendo alvo de comentários e críticas, tanto nas redes sociais, quanto em canais de comunicação digital. As polarizações acerca da repercussão do produto audiovisual são referentes à temática: o documentário narra, de forma cautelosa e sintética, sobre acontecimentos recentes e simbólicos da trajetória política do Brasil.


Veículos de comunicação, como El País, Brasil de Fato e Correio Braziliense, de forma a atuarem como uma mídia de carácter participativo que responde aos seus públicos, apresentaram matérias sobre o documentário. Enquanto o primeiro revela, no subtítulo da reportagem, ‘’Documentário de Petra Costa, que estreou no Netflix, traz um retrato para além do impeachment. E já nasce incompleto porque o equilíbrio ainda é distante’’, um tom mais crítico e distanciado, o terceiro aposta na narrativa mais positiva numa espécie de breve resenha sob o título ‘’Democracia em vertigem: Filme narra acontecimentos políticos do Brasil ‘’.


Através da narrativa pessoal da diretora e da história de sua família, conta-se desde a ascensão e queda poder do Partido dos Trabalhadores (PT), representado pelos ex-presidentes do Brasil Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff entre 2002 e 2016 até a eleição de Jair Bolsonaro como presidente, tangenciando a Ditadura Militar, as manifestações de 2013 e 2016, diante do acirramento da polarização política, e a operação Lava Jato.



O El País, através de Talita Bedinelli, opta por recapitular, através de citações diretas do próprio documentário e, então, inserir suas críticas jornalísticas e enquanto agente social, de modo assertivo e direito, como explicita: ‘’ É assim que o fenômeno Bolsonaro se forma. Com as vias livres, o capitão reformado chega ao poder, numa conciliação que atendeu a uma direita defensora da democracia e a extremistas que rogavam pela volta dos militares. A história é cíclica e, no Brasil dos últimos anos, bastante revolta. Mas, para além dos capítulos da história, o filme de Costa é o retrato de um país que se forjou sobre uma base mambembe, que nunca se reconstruiu’’. O Correio Braziliense e o Brasil de Fato são mais sintéticos e, diga-se , de forma famigerada, neutros e imparciais com cerca de quatro parágrafos imersos em citações.


Entretanto, não só o documentário, como também os veículos de comunicação parecem ter esquecido de um componente principal que, seja de posicionamentos pró documentário ou não, influenciam e organizam os fatos políticos em curso no Brasil: a mídia. Tal como a autora Costa não faz referência ou dedica-se a este ator social, os veículos de comunicação também não reivindicam as trajetórias midiáticas brasileiras que se encontram com os percursos de construção do país. Assim, para além dos favoritismos ou distanciamentos que os veículos propuseram em suas abordagens, a omissão crítica quanto a ausência do papel ou ‘’desfunção’’ da mídia nos fatos que o documentário é notória e problemática.

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